quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Digam-lhe...

Tem vinte e poucos anos, veste camisola de alças e faz a barba ao fim-de-semana alternando com os banhos. Foi visto pela última vez no acesso ao A1 em Leiria. Conduzia um camião cisterna com pelo menos meia dúzia de eixos e carregadinho de químicos até ao tutano, o camião e o dito por sinal. Uma autêntica bomba sobre rodas!
Digam-lhe que não fiquei amedrontado com os sinais de luzes e o ribombar do claxon que teve o cuidado de fazer antes de me passar uma rente a 90 à hora, digam-lhe que não vou dizer a ninguém, muito menos à policia, e que fiquei absolutamente convencido que ele conduz muito melhor que o Alonzo. Digam-lhe que foi sem querer que depois o voltei a ultrapassar e que lhe peço muita desculpa pelo atrevimento, afinal eu conduzia um mísero ligeiro e poderia ser entendido como estando a troçar daquela máquina do inferno. Digam-lhe que lhe peço desculpa por o ter obrigado a voltar a ultrapassar-me a 100 e com o semi-reboque a serpentear como uma sereia, mas sob controlo, claro. Digam-lhe que obviamente reconheci a repreenda que me deu ao guinar sobre o meu carro e que humildemente prometo nunca mais tornar a desafiá-lo. Digam-lhe que é mentira, que os colegas de profissão não ficam nada chateados por dizerem por aí que ele dá mau nome aos camionistas, claro que não! O mais certo é os colegas, principalmente os que se preocupam com essa coisa de ser-se civilizado e responsável serem uma cambada de totós. Poucos como ele tem nas mãos tanta potência e altura ao solo, poucos como ele tratam uma carga de químicos, explosivos e tóxicos, como uma carrada de algodão, há coisas que não são para todos! Digam-lhe que não há relação nenhuma entre o comportamento na estrada e o comportamento em casa e em sociedade, que essa coisa de dizerem que ele arrima na mulher e insulta os compichas quando emborca umas grades de minis é pura coincidência, digam-lhe que ler um jornal que não seja a Bola, Record ou afins é uma pura perda de tempo, digam-lhe que os filhos, se forem dele, não vão nada copiar os exemplos do pai, isso são tretas Darwianas, digam-lhe que não há dúvida nenhuma, antes pelo contrário existem já certezas cientificas, que a performance sexual na altura da verdade é muito superior àquela que se apregoa no café, de preferência com eles na mão, digam-lhe que fui eu que disse isto, que estou vivo, que ele falhou, digam-lhe!

8 comentários:

F Geria disse...

A Historia repete-se...
Na idade média utilizava-se um cavalo e uma armadura em aço, hoje em dia os cavalos aumentaram, sempre acima dos 300 Cv, e a armadura tornou-se bastante maior, sendo que os pedidos de duelo se dão normalmente na estrada e não nos campos de batalha como anteriormente...
Quero desde já agradecer a todos os profissionais que circulam nas estradas Portuguesas... mas vamos falar dos outros, aqueles que criam situações como as aqui relatadas, doravante designados por pintas, mas não os pintas do chocolate e dos iogurtes. Os pintas tem 2 anos mínimo de carta categoria B e vinte e anos, vão a uma escola de condução tiram a categoria C+E, isto consiste em andar com um conjunto de veiculo tractor e galera, que em norma o peso bruto não ultrapassa as 8 toneladas, e por acaso já repararam no quer transporta?... pois é caros leitores, dois pneus cheios de cimentos… é verdade… bem… o pintas faz o exame, passou, bebe uns copos com os amigos, uns copos com os amigos dos amigos, e assim sucessivamente… no dia seguinte ainda combalido, da noitada, alguém lhe espeta um pesado de mercadorias nas mãos, com suspensão na cabine, banco do condutor regulável com suspensão e memoria ar condicionado, cama, vinte e uma velocidades, uma cabine de sonho… carregado no mínimo com 35t… verdade 35t mesmo não se enganou a ler, já imaginou a força de inércia?... ui… e o pintas a única coisa que tinha transportado era dois pneus com cimento lembra-se?.... e não via de modas… liga a chave, o botão de ignição, alguns segundos depois todo o seu corpo estremece bem como o chão confinante, carrega duas vezes na tábua para ouvir o rugido da maquina… sente-se o rei… e bota para França ou Alemanha com o seu GPS de luxo… fornecendo não apenas as estradas, mas também as altitudes, declives e larguras de algumas vias… chega, mais leve pois emagreceu bastante devido a transpiração constante… a maquina é mesmo um bicho… mas ele safou-se…
Bem não vou falar das matérias perigosas…
O Pintas (este pintas, não o tal dos chocolates e do iogurte), normalmente é aquele… bem já ouviram falar na teoria da compensação… pois é mesmo isso… só é mau quando está na sua armadura… e no café já com algumas cervejolas no bucho… porque mais de resto enfim não tem identidade...

Bárbara Quaresma disse...

Perdoe-me, caro escritor, ter-me dado ao luxo de fazer uma interpretação do seu texto... Quem melhor que o senhor para a fazer, não é verdade? Mas gostei do que li, sinceramente... E o tom irónico que, no meu entender, perpassa as suas palavras, é a melhor arma para a crítica. Parabéns!

Anónimo disse...

Bárbara
Não tenho nada que te perdoar. Tão somente agradecer-te pelo facto de te teres predisposto a interpretar o meu texto. Pena é que o meu texto não seja passivel de ser interpretado. Ele é apenas um simples pedido de ajuda. Um pedido desesperado de ajuda. E é isso que me deixa triste e frustrado. Eu só queria que alguém lhe dissesse. Alguém! DISSESTE-LHE?

Bárbara Quaresma disse...

J Geria,
Prometo que o vou fazer... Entretanto, vai passando no Cãoprimido para combater a tristeza e a frustração.

Anónimo disse...

Ai eras tu!!! Na verdade, costumo ler o Sol ao fim de semana, porque acho que o expresso é de esquerda! Não gosto de cerveja, prefiro beber Cartuxa... e o camião...não era meu!!!

Anónimo disse...

É pá, estou revoltado... Ainda gostava de saber quem se fez passar por mim... Se calhar alguém que quer colher os louros do meu magnífico feito! E só para que fiques a saber: eu adoro louras...mas as morenas também marcham, claro está!

Anónimo disse...

Digam-lhe…
O que é circular com um pesado em que o travão eléctrico falhou…
Digam-lhe…
Que utilizar o travão de serviço, sem o apoio do travão eléctrico, cria fadiga na poli devido à fricção constante dos calços, levando por vezes estas a racharem o que provoca a ineficácia do sistema de travagem…
Digam-lhe…
Que os condutores que transportam matérias perigosas são obrigados a possuírem certificação (ADR) e a respeitarem as fichas de segurança, perdendo tal certificação se não o fizerem…

Anónimo disse...

Peço desculpa Geria.. de facto, quando te vi na route pensei em brincar um pouco contigo e o Michel foi simpático, deixou-me tomar as rédeas da machine e descontrolei-me. Sabias que se guinares o volante duas vezes o reboque dá também duas revielas?
Agora já sabes... já te mostrei!