terça-feira, 15 de maio de 2007

Utopia

Acordo. Saio a correr para a rua. Paro. Estou sem calças...
Acordo. Afinal foi um sonho. Estou na cama, deitado, mas não sinto os braços. Sacudo-me...
Acordo. Era um sonho. Vejo as horas. É tarde. Tenho a sensação que estou a cair e a baloiçar ao vento como uma folha de árvore...
Acordo. Sonho... pois. Adormeço. Sinto a presença de alguém. Quero acordar, mas não consigo, grito...
Acordo. Vejo um carro na minha direcção... é mais um sonho. Se bater, acordo!
Nunca mais acordei!

2 comentários:

F Geria disse...

O sonho do sonho!...
Na verdade a realidade tal como a conhecemos ou nos é apresentada, pode não ser real, e estar simplesmente a ser induzida, por algo ou por alguém...
Mas sempre que um carro vier na nossa direcção... vale a pena desconfiar, e jogar pelo seguro

Anónimo disse...

Um texto brilhante!
Já aconteceu a todos... noutros moldes, com outros contornos, claro!
Um dia, numa noite fria de Inverno, adormeci a custo. Os lençois mais pareciam plásticos, plásticos húmidos.
Ao fim de algumas voltas adormeci. Adormeci e sonhei. Sonhei de uma forma que só se sonha de tempos a tempos. Aqueles sonhos que nos transportam para uma realidade purificadora, que nos limpa o corpo e a alma. Relaxante.
Não sei como começou mas estava seguramente a caminho do paraiso. Não ouvia nada que não melodias celestiais, brizas, sopros quentes nos meus ouvidos. No ar um aroma cálido e doce. Ao longe luz creme e pura. Apararentemente todos os meus sentidos estavam a ser estimulados.
Não sentia peso, nem fome e, lembro-me, não sentia o meu respirar, nem o bater do coração. Era como se as funções básicas do meu existir tivessem sido relegadas para um patamar insignificante. Só restavam as mais nobres percepções.
Não, não vi nenhum túnel com uma luz ao fundo nem nada dessas banais descrições dos estágios pré-morte, era mais do que isso. Era um abandono do corpo carnal e um sentir intenso do espiritual, da felicidade, do bem bom.
Aos poucos fui sentindo um leve calor, suave e terno. Começava algures no centro do meu corpo, agora translucido, e deslizava tacteando em todas as direções, envolvendo a pele por onde subia...
A felicidade existe e não era só um sonho era um lição de vida. Andamos tão distraídos e envolvidos no nosso dia a dia que nem nos apercebemos da potencialidade dos nossos sentidos, sentir centimetro a centimetro a nossa pele, inalar os cheiros um por um, ouvir aqueles sons que são brizas, indescritivel...
A noite evoluiu, os sons foram-se perdendo, primeiro abafados pelo falso silêncio da noite, depois pelos barulhos de uma manhã que rompe aos tropeções. O calor que antes me envolvia também desceu, recuou e tornou-se frio e angustiado, os aromas pareciam nunca ter existido.
Levantei-me. Desfiz a cama e meti os lençois na máquina de lavar. Mijei-me todo... merda.